Aquilombamento transnacional: relato de experiência
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Autora: Soraia Lima Ribeiro de SousaBlog content
Sued Nunes, compositora bahiana canta “eu vim de lá me tiraram de casa, mas tô aqui eu vou cantar para retornar.” E foi isso que fizemos entre os dias 30 de agosto a 01 de setembro de 2022, no Workshop Construindo Solidariedade Transnacional: pedagogias radicais do Sul, realizado na Universidade Federal do Maranhão em São Luís/Maranhão/Brasil.
Nestes dias, cantamos, retornamos/retomamos e discutimos o desenvolvimento de nossas pesquisas e também estratégias de sobrevivência numa academia que, tanto no discurso quanto na prática do racismo e sexismo, demonstra que nossas (re) existências, nossos corpos pretos, nossos cabelos blacks, nossas histórias, nossas experiências, nossos modos de ser e estar no mundo não cabem nesse lugar.
Naqueles dias, nos abraçamos, choramos nossas dores, celebramos nossas vitórias individuais e coletivas e fomos provocadas a refletirmos a encantaria presente nos processos de aquilombamento. É possível existir quilombo acadêmico? Qual a importância de nos denominarmos como quilombo acadêmico?
Sim! Como coletivo de pessoas negras reunidas, estrategicamente, como nos ensina Conceição Evaristo, retomamos a mística dos quilombos, como espaços de luta, de resistência, de aprendizagens e de celebração de nossas vidas, resgatando o que temos como memória ancestral que a consciência, transvertida de discurso ideológico nos afasta (GONZALEZ, 2020).
Nos (re) encontramos e ali nos constituímos como quilombo (porque sentimos o MAfroEduc Olùkọ́ um lugar de refúgio na geografia universitária), em busca da liberdade na luta contra o racismo, o sexismo e a colonialidade. Assim, resgatamos a memória de nossas/os ancestrais que abriram caminhos para sermos livres, para ser quem somos – mulheres negras acadêmicas, que trabalham para (re) africanizar as ciências embranquecidas.
Discutimos a necessidade de criarmos espaços de diálogo, de abertura epistemológica, de possibilidades de construção de pedagogias radicais, que valorizam as subjetividades das/os sujeitos, que sejam decoloniais, afrocêntricas e ainda, ubuntuísta.
A pedagogia ubuntuísta, resultado de na nossa pesquisa, é constituída pelos seguintes elementos: Cotidiano de saberes e práticas afrodescendentes; Exterioridade desprezada pela modernidade; Afrocentricidade; Educação com diálogo intercultural; Valorização da humanidade e de identidades plurais; Ancestralidade e vivências coletivas (SOUSA, 2022).
Durante o Workshop, para além de discutirmos e sonharmos realidades outras na academia e que se alinham com as nossas motivações no MAfroEduc Olùkọ́, tivemos a oportunidade do diálogo intercultural com diversos sujeitos: pesquisadoras/res, comunidades de terreiro, grupos culturais, pessoas negras que no seu fazer cotidiano celebram e promovem aquilombamentos e solidariedades. Desejamos que esses diálogos sejam cada vez mais transnacionais!
Referências:
GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano. Organização:
Flávia Rios e Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
SOUSA, Soraia Lima Ribeiro de Sousa. África em nós: saberes ubuntu na formação inicial docente no curso de Pedagogia UFMA/Campus Codó. Dissertação. Programa de Pós Graduação em Educação/UFMA. São Luís: 2022. Disponível em: https://tedebc.ufma.br/jspui/bitstream/tede/3826/2/SORAIALIMARIBEIRODESO USA.pdf. Acesso em 22 jun. 2023.