Radical Pedagogies

Princípios

Introduction

As pedagogias radicais são práticas que valorizam os saberes e conhecimentos oriundos dos povos ancestrais brasileiros originários, tais como de comunidades indígenas e africanas, em seus processos de resistência ao colonialismo e imperialismo. Tais como: noções de pertencimento e reconhecimento de uma identidade étnico-racial positiva, circularidade, ancestralidade, acolhimento, dentre outras.

Nesta seção, compartilhamos alguns dos valores e princípios nos quais as pedagogias radicais se assentam. 

Valores 

Aqui, cuidamos para apontar tentativas de homogeneizar grupos marginalizados muitas vezes representados como se não houvesse complexidade, diferenças e nuances particulares dentro dos coletivos e entre eles. Ao pensar que grupos como os quilombolas são homogêneos, praticamos o apagamento branco. Esse termo que explica a formação e naturalização dos epistemicídios e genocídios desta população. O apagamento branco também se faz presente nas formas de apropriação cultural e estereotipação de tais grupos, sendo adotado, muitas vezes, nas práticas acadêmicas em pesquisa e ensino. Nesse sentido, os valores que apresentamos abaixo representam similaridades em seus contrastes, dissonâncias, e particularidades nos diálogos entre os espaços e pessoas nos quilombos, no ativismo educativo, coletivos acadêmicos dentro do propósito antirracista. A partir de um diálogo, concordamos coletivamente a respeito dos seguintes valores, embora enfatizando que se trate de um processo contínuo de mudança e negociação, onde buscamos uma constante contribuição de outras formas de solidariedade transnacionais ubuntu: 

 

  • Ensino com estratégias autorreflexivas: agir-pensar-fazer 
  • Escuta ativa: escuta de si mesmo e do outro  
  • Autoconhecimento  
  • Educação para o SER CONSCIENTE  
  • Criação de outras nuances cognitivas em relação ao espaço-tempo de aprendizagem (onde aprender? Como? Até que idade?) para lidar com as diversas formas de discriminação como, racismo, sexismo, preconceitos de idade, entre outros ismos educacionais         
  • Abertura à mudança 
  • Pensamentos e emoções  

 

Bem Viver (Sumak Kawsay/Buen Vivir)

Nomenclatura oriunda dos saberes de populações indígenas da América Latina que significa viver em plenitude e em abundância. Bem viver manifesta a integralidade entre o ser humano e a natureza (a Pachamama ou Mãe Natureza), em respeito por toda a biosfera. Também denominado de sumak kawsay, na língua indígena quíchua; suma qamanã, no aimaran; ou, teko porã, no guarani. A “vida boa” expressa uma organização social diferente da lógica de ‘Colonialidade do Poder’ (Quijano, 200013). O bem-viver traduz um estilo de vida comunitário, solidário e social entre todos os seres. De acordo com Eduardo Gudynas, um dos elementos característicos desse conceito é o de a qualidade de vida só se atinge na vivência em comunidade.  

Vivências Em/Com a Natureza

Tudo que nos cerca tem vitalidade, força vital. Como parte do bem-viver, vive-se em harmonia com tudo e todos ao entorno, incluindo a Natureza. Não há hierarquia entre o homem e a Natureza, como é característico do pensamento eurocêntrico. Essa percepção/filosofia de vida leva a uma vivência harmoniosa e respeitosa das relações do homem, animais, e Natureza buscando um viver bem, equilibrado e harmonioso. Somos todos irmãos; nesse sentido, rompe-se com a lógica de exploração, dominação, opressão e destruição. (Godoy, 2019). 

Filosofia Ubuntu

De origem africana, ubuntu expressa a ideia de “ser com os outros” ou “sou por que nós somos”. A palavra decorre da junção de ubu e ntu. Ubu significa existir, ser, e ntu expressa a ideia de existir em concretude, no fazer em movimento (Ramose, 1999). Ubuntu humaniza todos os fenômenos, inclusive os educacionais.  

Essa filosofia popularizou-se através de um conto que narra a surpresa de um antropólogo europeu, em visita a uma comunidade africana, frente à atitude de suas crianças. Estimuladas à competição e brincadeira na busca de um prêmio escondido pelo antropólogo, as crianças decidem encontrá-lo juntas, de mãos dadas. “Ubuntu: como pode um ser feliz enquanto os outros estão tristes?”  

No entanto, a filosofia Ubuntu deve ser expandida em sua compreensão e “inspirar uma nova forma de ser e estar no mundo” (Santos e Menezes, 2010). Ela é "uma espécie de ‘Filosofia do Nós’, de uma ética coletiva cujo sentido é a conexão de pessoas com a vida, a natureza, o divino e outras pessoas, de forma comunitária. A preocupação com o outro, a solidariedade, a partilha e a vida em comunidade são princípios fundamentais dessa ética.” (Nascimento, 2014). Ainda, indica “tudo que está ao nosso redor e temos em comum” (Noguera, 2011).